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domingo, 27 de setembro de 2015

Cidade partida, democracia racial e outros mitos.


Real paisagem da cidade do Rio de Janeiro

Zuenir Ventura em seu livro Cidade Partida afirma que há um apartheid social na cidade do Rio de Janeiro. Ele escreveu sua obra em meio a uma tremenda discussão sobre violência na década de 1990, marcada pelas reportagens sobre a chacina de Vigário Geral, arrastões nas praias, guerras nas favelas dominadas pelo tráfico, sequestros e assaltos e o país se perguntava sobre as causas dos problemas.
Mas se essa relação fosse tão simples todos entenderíamos, afinal cada qual teria seu lugar na cidade sem que um interferisse no outro. O complicado é que uns espaços são exclusivos de determinada classe social, a maioria não é.
Perguntas simples resolvem o dilema: onde moram as empregadas domésticas? Onde estudam os adolescentes dos morros? Vou ao baile funk na favela ou na boate?
As respostas das perguntas anteriores indicam que há mais integração socioeconômica que parece, uma dialética interessante, afinal um tiroteio paralisa a cidade tanto quanto uma crise econômica faz aumentar o desemprego nas favelas ou um título de copa do mundo não diferencia as festas nos dois lados. Nem por isso devemos acreditar que por essas interações existirem, elas sejam cordiais. Há muito preconceito aí dentro, cai o mito da democracia racial junto.

A democracia racial surgiu com a obra de Gilberto Freyre "Casa grande e senzala", onde o autor se esforça para fazer uma releitura da História do Brasil, transformando a escravidão e seus efeitos nefastos em algo bom, pois a miscigenação integrava o negro à sociedade "civilizada". Então esse discurso foi amplamente empurrado goela adentro nas universidades, escolas e mídia, servindo para aliviar a barra das elites nacionais e assim parecer ao pobre que é bom ficar cordialmente sobre exploração deles. O chato é que apesar do que muitos pesquisadores já publicaram para contradizer esse discurso, ele se mantem porque ainda servem ao propósito de dominação das elites.



Mas ainda falta para a maioria das pessoas acreditar nas pesquisas publicadas que indicam um recorte racial forte na distribuição da riqueza em nosso país. Quanto maior a renda, menor a quantidade de negros e pardos. A manutenção dos privilégios continua firme e forte.
Apesar da interferência mútua nos espaços e na vivência da cidade, gangues de classe média e ricos querem impor sua ordem (alem daquela que a polícia já faz em seu favor). Com discursos recheados de preconceitos e se sentindo acima da lei, promovem uma separação na base da pancada em cima daquele que parece suspeito de não pertencer  ao seu mundo. Daí o único recorte que fazem é o racial.

Todo camburão tem um pouco de navio negreiro... (Fonte: Jornal Extra Online)

Vejamos como os conflitos que vem se acirrando no Brasil vão desenvolver esse enredo. Até lá devemos criticar erros, inibir o crescimento da extrema direita com seus pensamentos fáceis, mostrar os reais motivos por que coisas assim ocorrem e cobrar dos políticos e do judiciário que garantam o direito de todos, principalmente dos mais vulneráveis. Enquanto isso vou deixar um vídeo revelador, embora um pouco sensacionalista, que mostra como esses problemas são antigos. Ele se chamava Documento Especial e era produzido pela extinta TV Manchete.



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